sábado, 15 de maio de 2010
É mesmo assim. Um texto de Sérgio Ribeiro.
Nós por cá somos assim. Há quem diga, depreciativamente, que somos de brandos costumes.
Mas, nós por cá, somos assim. Protestamos mais que afirmamos. Barafustamos mais que agredimos. Ameaçamos mais que fazemos. Excepto este governo que por cá temos que ameaça menos que aquilo que faz de malfeitorias. Mas a isso é obrigado por Bruxelas e arredores, como Frankfurt e Nova Iorque. E ele, servil, por cá vai fazendo (apetecia usar outro verbo para melhor corresponder ao que nos vai fazendo…).
Mas nós, por cá, somos assim. Quando nos manifestamos não é em ordem formada. Nem nos tempos da Mocidade Portuguesa, importada do nazismo hitleriano, éramos lá muito disciplinados. “Chefes de quina”, “comandantes de castelo”, mas tudo um bocado à balda… Todos fardados, camisinha verde e cinto com o S de Salazar na fivela? Qual quê! (eu, que confesso, envergonhado, que me vi promovido a “chefe de quina” – e por aí ficou a carreira, de nada tenho que me envergonhar – nunca me fardei!). Passos de ganso e tudo ali alinhadinho?, nunca!
E assim é. Nós por cá somos assim. Quando nos manifestamos contra as políticas que contra nós são, e se temos razões para isso!, fazemo-lo à nossa maneira. Como nós por cá somos. As primeiras filas, a “cabeça da manifestação” ainda vá lá. Os panos bem seguros por umas vinte mãos, dizendo o mais importante a sublinhar, a cores, o NÃO, e assim se conseguem umas dez ou vinte filas dos camaradas e companheiros mais responsáveis. Pelo meio, umas organizações em que se repetem "cabeças de manifestação". Responsáveis segurando panos dizendo o que tem de ser dito, uma carrinha ou um carro a chamar às palavras de ordem, alguns mais afoitos – cada um é como cada qual - com megafones.
Mas depois, lá para trás, para trás das filas – nalguns casos só uma – é um bocado de rebaldaria. São os encontros amigos, é a alegria da convivência e da consciência tomada em colectivo que a reforça, é a conversa-em-dia.
Pelos passeios laterais, abrem-se alas de gente. Não só a ver mas, também..., a ver passar.
De vez em quando, entra-se na corrente, como mergulho no rio de gente, aumentando a enxurrada uns metros, para se sair mais adiante… para ter melhor vista de conjunto. Quase sempre impressionante.
Nós por cá somos assim. Saudamos os amigos, damos-lhe o braço, ou damo-nos as mãos, conversamos, fazemos coro nas palavras de ordem (nem sempre), e aí vamos nós, como era no futebol, antes das tácticas, tudo ao molhe e fé em deus (ou no Eusébio).
Sérgio Ribeiro (Anónimo séc.XXI)
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