Nota do Secretariado do Comité Central do PCP
Faleceu António Dias Lourenço
Sábado 7 de Agosto de 2010
O Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português informa, com profunda mágoa e tristeza, do falecimento hoje, dia 7 de Agosto, aos 95 anos, de António Dias Lourenço, um dos mais destacados dirigentes comunistas da história do PCP que dedicou a vida à luta da classe operária, dos trabalhadores e do povo português, à luta do seu Partido contra o regime fascista, contra a exploração, pela liberdade, pela democracia, por uma sociedade nova, o socialismo e o comunismo.
Nascido em Vila Franca de Xira em 1915, torneiro mecânico de profissão, Dias Lourenço, que começou ainda criança a vida de operário, aderiu ao Partido Comunista Português em 1932, com 17 anos de idade.
António Dias Lourenço teve activa participação na reorganização do Partido de 1940/41, nomeadamente no Baixo Ribatejo (onde integrou o respectivo Comité Regional), tendo-se tornado funcionário do Partido e passado à vida clandestina em 1942, assumindo a responsabilidade de tipografias e do aparelho central da distribuição da imprensa do Partido.
Ainda antes, no começo dos anos 40, assumiu papel importante na organização dos «Passeios no Tejo», com a participação de Álvaro Cunhal, Soeiro Pereira Gomes, Alves Redol e outras destacadas figuras da cultura, encontros que permitiram estreitar laços entre intelectuais e operários e impulsionar o movimento neorealista e a luta antifascista.
Eleito para o Comité Central em 1943 (do qual foi membro até 1996), Dias Lourenço integrou organismos dirigentes das grandes greves de Julho e Agosto de 1943 e de Maio de 1944 e esteve ainda ligado a outras grandes acções de massas como o 1º de Maio de 1962 e a luta pela conquista das 8 horas de trabalho nos campos. Responsável antes do 25 de Abril por várias organizações do Partido (Alentejo, Algarve e Beiras) Dias Lourenço assumiu depois da Revolução a responsabilidade pelas Organizações Regionais do Oeste e Ribatejo e das Beiras.
Foi representante do Partido no Conselho Nacional do MUNAF.
António Dias Lourenço integrou o Secretariado do Partido entre 1957 e 1962, e foi membro da Comissão Política em 1956 e entre 1974 e 1988. Foi responsável pelo «Avante!», Órgão Central do PCP, de 1957 a 1962, ano da segunda prisão, e seu Director desde a publicação do primeiro número legal em 1974 até 1991.
Preso duas vezes, em 1949 e 1962, Dias Lourenço passou 17 anos nas prisões fascistas, tendo protagonizado uma das mais audaciosas fugas ao evadir-se do Forte de Peniche em 1954.
António Dias Lourenço foi Deputado entre 1975 e 1987, tendo feito parte da Assembleia Constituinte.
Deixa-nos editadas valiosas obras ligadas à luta como «Vila Franca de Xira: um concelho no país – contribuição para a história do desenvolvimento socio-económico e do movimento político-cultural», «Alentejo: legenda e esperança», e ainda «Saudades... não têm conto! - Cartas da prisão para o meu filho Tónio».
Um dos mais destacados exemplos da resistência ao fascismo, da luta pela liberdade, democracia e transformações revolucionárias de Abril, Dias Lourenço deixa um exemplo de inquebrantável combatividade e firmeza na luta política que as gerações de comunistas, presente e futuras, saberão honrar.
O Secretariado do Comité Central endereça à família as suas sentidas condolências.
A gente boa vai morrendo!!! Raios, porque não se vão os que não prestam??? jinhos!
ResponderEliminarA morte do António é uma grande perda para todos os que o conheceram de perto e mesmo para quem nunca o viu. Mas para quem, como eu, teve o privilégio de estar junto dele logo a partir dos primeiros meses depois do 25 de Abril (propriamente dito), tive nele um exemplo sempre a seguir. Eu tinha 20 anos, e sempre olhei para o António com respeito, admiração, muito carinho, e com muita gratidão (nunca esquecerei as colherinhas de doce de tomate que me dava à noite, no Avante, quando nos primeiros meses da gravidez do meu filho eu me sentia enjoada e não conseguia ir para casa nos transportes; paternalmente, fazia-me festas na testa, ia falando comigo da sua vida, metia-me a custo as tais colheritas de doce na boca, comigo deitada num divã de abrir e fechar "estacionado" num qualquer abinete da Santos Dumond). Mas foram a sua vida, as suas palavras e as suas atitudes que me marcaram mais. Da última vez que me viu, há uns anos, depois de me reconhecer, fez-me uma festa no queixo e disse-me carinhosamente: "Oh Ana, tu cresceste, rapariga". Tinham passado 36 anos desde a primeira vez que o vi. Obrigado, Mano, por teres lembrado o antónio no teu blog. Ana
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